PORQUE NENHUM DE nóS SE IA IMPORTAR DE MORAR NUMA BIBLIOTECA…

sábado, 31 de março de 2012

"Verónica decide morrer" de Paulo Coelho


No dia 11 de Novembro, Verónica decidiu que havia - afinal! chegado o momento de se matar...
e não se estava a matar porque era uma mulher triste, amarga, vivendo em constante depressão... Haviam duas razões:

A primeira é que tudo na sua vida era igual, e - uma vez passada a juventude - seria a decadência...

A segunda, Tudo o que se estava a passar no mundo estava errado e ela não tinha como reparar isso...

Quanto tempo me resta?- Repetiu Verónica, enquanto a enfermeira dava a injecção.

- Vinte e quatro horas. Talvez menos.

Ela baixou os olhos, e mordeu os lábios. Mas manteve o controlo.

- Quero pedir dois favores.

O primeiro, que me dê um remédio... de modo que eu possa ficar acordada, e aproveitar cada minuto que restar da minha vida. Eu estou com muito sono, mas não quero mais dormir, tenho muito que fazer - coisas que sempre deixei para o futuro, quando pensava que a vida era eterna. Coisas pelas quais perdi o interesse, quando passei a acreditar que a vida não valia a pena.

- Qual o seu segundo pedido?

- Sair daqui, e morrer lá fora. Preciso de subir ao castelo de Lubljana, que sempre esteve ali, e nunca tive a curiosidade de vê-lo de perto... quero andar na neve sem casaco, sentindo o frio externo - eu, que sempre estive bem agasalhada, com medo de apanhar uma constipação. Enfim, Dr. Igor, eu preciso de apanhar chuva no rosto, sorrir para os homens que me interessam, aceitar todos os cafés para os quais me convidem.

Tenho que beijar a minha mãe, dizer que a amo, chorar no seu colo - sem vergonha de mostrar os meus sentimentos, porque eles sempre existiram, e eu escondi-os...

Quero entregar-me a um homem, à cidade, à vida e, finalmente, à morte.


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